História do Honpa Hongwanji

Shinran Shonin(Mestre Shinran)

Shinran Shonin (1173-1263) nasceu em fins do período de Heian, quando o poder político passava da corte imperial às mãos dos clãs guerreiros. Foi nesta era em que a velha ordem desmoronava, que o budismo japonês, apesar dos vários séculos de declínio pelo formalismo, teve uma renovação intensa, abrindo novos caminhos para a iluminação e se difundindo em todos os níveis da sociedade.

Shinran Shonin Shinran nasceu na família aristocrática Hino, um ramo do clã Fujiwara, e seu pai, Arinori, serviu na corte por algum tempo. Todavia, quando tinha nove anos, Shinran entrou para o templo Tendai no Monte Hiei, onde passou vinte anos de vida monástica. Pela familiaridade com os escritos budistas que se constatam por seus escritos posteriores, fica evidente que se dedicou intensamente aos estudos neste período. Provavelmente ele realizava também outras práticas, como a recitação contínua do Nembutsu por períodos prolongados.

Vinte anos depois, porém, perdeu a esperança de atingir a iluminação através de disciplina e estudo. Além disso, ficou desanimado com a terrível corrupção que prevalecia no mosteiro do Monte. Alguns anos antes, Honen Shonin (1133-1212) havia descido do Monte Hiei e começou a transmitir uma compreensão radicalmente nova de prática religiosa, declarando que todos os esforços egóicos para alcançar a iluminação estão contaminados pelo apego e são, portanto, sem sentido. Em vez de se realizar esse tipo de prática, deve-se simplesmente recitar o Nembutsu, não como um exercício contemplativo ou meio de ganhar méritos, mas confiando totalmente que o Voto de Amida leva todos os seres à iluminação.

Quando tinha vinte e nove anos, Shinran empreendeu um retiro longo no Templo Rokkakudo, em Kyoto, para determinar o seu curso futuro. Na madrugada do nonagésimo quinto dia, o Príncipe Shotoku lhe apareceu num sonho. Shinran interpretou o sonho como um sinal de que deveria procurar Honen e escutar diariamente seus ensinamentos durante cem dias. Ele então abandonou suas práticas do Tendai e se juntou ao movimento de Honen.

Nessa ocasião, porém, os templos estabelecidos ficavam cada vez mais invejosos de Honen e, em 1207, conseguiram a proibição governamental aos ensinamentos do Nembutsu. Vários seguidores foram executados, e Honen e outros, incluindo Shinran, foram exilados da capital.

Shinran foi despojado do seu sacerdócio, recebendo um nome de leigo, e foi exilado para Echigo (Niigata), na costa do Mar de Japão. Por este tempo, casou com Eshinni e começou a formar uma família. Declarou que não era “nem monge nem leigo”. Incapaz de cumprir a disciplina monástica ou de realizar boas obras e, no entanto, precisamente por esta razão, foi abraçado pela atividade compassiva de Amida. Conseqüentemente assumiu o nome de Gutoku, “ignorante, atonsurado”. Com este nome queria indicar a futilidade de se apegar ao intelecto e à bondade própria.

Cinco anos depois, foi indultado, mas decidiu não voltar a Kyoto. Em vez disso, em 1214, quando tinha quarenta e dois anos de idade, dirigiu-se à região de Kanto, onde propagou o ensinamento do Nembutsu durante vinte anos, e assim formou um movimento muito amplo entre os camponeses e samurais de classes inferiores.

Mais tarde, Shinran, aos sessenta anos de idade, iniciou uma nova vida, retornando a Kyoto para dedicar suas três décadas finais de vida à escrita. Não proferiu sermões nem ensinou a discípulos, viveu com parentes e se manteve com os donativos de seus seguidores na região de Kanto. Depois que sua esposa regressou a Echigo para supervisionar as propriedades ali, a sua filha menor, Kakushinni, cuidou dele.

É deste período que provém a maioria dos seus escritos. Shinran concluiu sua obra principal, conhecida popularmente como Kyogyoshinsho e compôs centenas de hinos nos quais tornou as escrituras chinesas acessíveis às pessoas comuns. Neste tempo, como surgiram dificuldades no entendimento de seu ensinamento entre seus seguidores na região de Kanto, ele escreveu numerosas cartas e comentários, tentando esclarecê-las.

Algumas pessoas afirmavam que se devia procurar recitar o Nembutsu tão freqüentemente quanto possível e outras insistiam que a confiança verdadeira se manifestava em dizer o Nembutsu só uma vez, deixando todo o restante para Amida. Shinran recusou ambas as posturas, considerando-as contrições baseadas no apego ao Nembutsu como uma boa ação. Como o genuíno Nembutsu surge da verdadeira confiança, que é a ação de Amida em nós, não é relevante quantas vezes se recita.

Além do mais, alguns sustentavam que, já que o Voto de Amida visava salvar as pessoas incapazes de fazer o bem, o homem devia sentir-se livre para cometer o mal. Para Shinran, porém, emancipação não significa liberdade de fazer tudo o que se queira, mas a liberação do cativeiro das reivindicações dos desejos e emoções egocêntricas. Declarou, portanto, que com a confiança profunda no Voto de Amida, chega-se a ter consciência genuína do próprio mal.

Quando se aproximava o fim da sua vida, Shinran teve de renegar seu filho mais velho, Zenran, que causou rupturas entre os seguidores de Kanto ao reivindicar que tinha recebido um ensinamento secreto de Shinran. Apesar disso, sua energia criativa continuou até a sua morte aos noventa anos. Suas obras manifestam uma visão progressivamente rica, madura e eloquente sobre a existência humana, que o qualifica como um dos pensadores religiosos mais profundos e originais do Japão.

História do Hongwanji

Origens

O Hongwanji se desenvolveu a partir de um templo construído onde estava o mausoléu de Shinran Shonin. Com sua morte, seus restos cremados foram enterrados em Otani, nas colinas a leste de Kyoto, e o local foi marcado por um obelisco simples de pedra.

Muitos seguidores vieram para lhe prestar homenagem, especialmente da região distante de Kanto (a área de Tokyo de hoje) Em 1272, com o apoio destes seguidores, a filha de Shinran, Kakushinni, trasladou as cinzas de seu pai para o sítio de sua residência em Yoshimizu, um pouco mais ao norte. Neste lugar, construiu-se uma capela hexagonal, onde uma imagem de Shinran foi entronizada.

Muitos anos depois, com a morte do esposo, o título da propriedade passou a Kakushinni, o que lhe permitiu determinar o futuro da capela. Assim, em 1277, ela dedicou sua propriedade ao movimento Shin, como um mausoléu permanente, para que ficasse sob os cuidados de uma pessoa da linhagem de Shinran. A capela e a propriedade ficaram conhecidas como o Mausoléu Otani (Otani Byodo), e este era sustentado pelos seguidores na área de Kanto.

O primeiro intendente do mausoléu foi Kakue, filho de Kakushinni, que em 1310, foi sucedido por seu filho, Kakunyo. Kakunyo aumentou o prestígio do mausoléu ao obter seu reconhecimento como templo e, além disso, se empenhou para que o mausoléu se tornasse o centro do movimento Shin. Foi ele quem adotou o nome de Hongwanji (Templo do Voto Original).

Em 1336, o Mausoléu Otani incendiou-se durante a guerra entre Ashikaga Takauji e o Emperador Godaigo. Kakunyo o reconstruiu, não como uma capela hexagonal, mas sim, como um templo padrão. Nas gerações subseqüentes, o Hongwanji se desenvolveu até adquirir sua forma atual, com dois edifícios, o do Fundador e o do Buda Amida. No entanto, facções foram criadas entre os seguidores, e a maioria das dez seitas Shin surgiu neste período, em torno de templos centrais em várias partes do país. Foi somente na época de Rennyo que o Hongwanji se tornou independente da escola Tendai e passou a ser o centro da tradição Shin.

Rennyo Shonin (1415-1499)

Sob a orientação de Rennyo, o líder da oitava geração, o Hongwanji cresceu notavelmente. Depois de assumir a posição de chefe do Hongwanji (atualmente se chama Monshu), Rennyo teve grande sucesso na difusão do ensinamento às províncias próximas, comunicando o ensinamento com linguagem poderosa e coloquial, especialmente através de cartas (Gobunsho).

No entanto, o crescimento da influência do Hongwanji em Omi (Província de Shiga) provocou a ira do templo Tendai no Monte Hiei, que tradicionalmente considerava esta uma área sob sua jurisdição. Em 1465, monges guerreiros do Monte Hiei atacaram o Hongwanji repentinamente e destruíram vários edifícios, o que forçou Rennyo a se evadir.

Em 1471, depois de Omi ter sido ocupado por um daimyo (senhor feudal) hostil, Rennyo se estabeleceu em Yoshizaki, Echizen (Prefeitura de Fukui). Ali sua reputação de grande líder religioso se espalhou, e ele começou a atrair milhares de seguidores. Os templos afiliados ao Hongwanji em Echizen e nas áreas vizinhas se tornaram um poder político, e numa época em que eram travadas lutas constantes entre os daimyos, surgiram forças que procuraram usar a força do Hongwanji militarmente ou estender sua influência mediante alianças políticas.

Vendo seu movimento ficar emaranhado em lutas violentas e sem poder refrear seus seguidores, Rennyo optou por se retirar. Em 1474, voltou à área de Osaka, e em 1478 selecionou Yamashina, nas cercanias de Kyoto, como o local para a construção de um complexo magnífico de templo, que foi concluído em cinco anos. Quando tinha setenta e quatro anos, Rennyo se retirou como Monshu, mas continuou sua atividade de propagar seu ensinamento.

Aos oitenta e dois anos, estabeleceu um templo em Ishiyama, na Baía de Osaka, que reconheceu, por seu intenso tráfico fluvial, como um lugar ideal para a propagação. A aldeia, que iria crescer até se tornar a cidade de Osaka, rapidamente se formou ao redor do templo. Quando Rennyo faleceu em 1499, aos oitenta e cinco anos, o pequeno templo de Kyoto da sua juventude tinha se transformado numa poderosa instituição religiosa.

Hongwanji de lshiyama

O século que se seguiu à morte de Rennyo foi marcado por turbulência e mudança significativas tanto para o país como para o Hongwanji. O período de 1482 a 1558 é conhecido como a idade de “o país em guerra” e é caracterizado por guerras incessantes e alianças mutáveis entre os senhores feudais de todo o Japão. No início deste período, os seguidores do Shin em Echizen e na vizinha Kaga se insurgiram para dominar virtualmente essas províncias e, durante um século, o Hongwanji permaneceu como obstáculo para as ambições dos senhores guerreiros que pretendiam dominar todo o país.

Em 1532, o Hongwanji de Yamashina foi atacado e queimado completamente pelo daimyo de Omi, Rokkaku, e seguidores da escola de Nichiren. O templo foi deslocado para Ishiyama, onde, situado num monte elevado e rodeado por vias aquáticas, ocupava uma posição estratégica de grande força. Ali se encontra atualmente o Castelo de Osaka. A influência do Hongwanji foi aumentando na área.

A partir de meados do século XVI, o senhor guerreiro Oda Nobunaga emergiu como um dos lideres militares mais poderosos, e seu impulso de controlar o país, o levou a entrar em conflito com o Hongwanji. Em 1580, depois de onze anos de ação militar contra o Hongwanji de lshiyama, não conseguindo lograr sua capitulação, Nobunaga solicitou a intercessão do imperador Ogimachi, que atuou como mediador para a evacuação de Ishiyama. O décimo primeiro Monshu, Kennyo, transferiu o Hongwanji para Saginomori na província de Wakayama e depois para Kaizuka e Temma em Osaka de hoje.

Retorno a Kyoto

Nobunaga foi assassinado em 1582, e a unificação final do país foi realizada por um dos seus generais, Toyotomi Hideyoshi, que apoiava o Hongwanji. Em 1591, Hideyoshi doou o terreno em que hoje está edificado. Com o deslocamento das instalações de Temma no ano seguinte, o Hongwanji retornou para Kyoto.

Em 1592, Kennyo morreu e foi sucedido pelo filho mais velho, Kyonyo. Todavia, em seu testamento, nomeou o seu terceiro filho, Junnyo, para seu sucessor. Este testamento foi reconhecido por Hideyoshi e a responsabilidade foi transmitida para Junnyo em 1593. Kyonyo se aposentou, mas uma década depois, em 1602, o xógun Tokugawa Ieyasu doou-lhe um terreno situado ligeiramente ao este do Hongwanji. Os seguidores do Hongwanji se dividiram e se erigiu um templo, conhecido popularmente como Higashi ou “este”, o qual se tornou a matriz da nova escola Otani.

Provavelmente, transferiram-se algumas construções, incluindo o Pavilhão da Nuvem Volante, a porta cerimonial e a Câmara das Ondas, por volta deste tempo. Os edifícios principais, porém, foram destruídos na ocasião do grande terremoto de 1596. Logo sua reconstrução se empreendeu, mas, em 1617, um incêndio arrasou o recinto. As obras que estavam quase terminadas foram consumidas pelo fogo. Sob a direção de Junnyo e de seu sucessor, Ryonyo, foram construídos muitos dos componentes do complexo atual. Alguns têm sido reconhecidos como Tesouros Nacionais e Patrimônios Culturais importantes, o que prova a contínua criatividade e vitalidade do Hongwanji. Em 1994, o recinto completo do Hongwanji foi designado como Patrimônio Cultural do Mundo pela UNESCO.

Junnyo construiu o Edifício de Amida, a câmara principal de audiência e o complexo Shiro Shoin. A reconstrução do Edifício permanente do Fundador foi empreendida por Ryonyo, que adicionalmente construiu as câmaras de Kuro Shoin e o Meichodo no Mausoléu Otani.

Durante este período, a organização do templo Hongwanji se estabeleceu firmemente de acordo com as políticas do governo Tokugawa, demandando estruturas internas hierárquicas e um grêmio fixo do templo. Além disso, os fomentos oficiais para a formulação de ensinamentos doutrinais levaram à criação de uma organização para o estudo acadêmico, que se tornaria a Universidade Ryukoku, uma das instituições de ensino superior mais antigas no Japão.

Além das Fronteiras Nacionais

Com a Reforma Meiji, em 1868, o Japão entrou num período de modernização acelerada, mas este foi também um tempo de crise. O novo governo adotou uma atitude fortemente antagônica ao budismo e surgiu um movimento para sua erradicação e para promover a ascensão do xintoísmo em todo o Japão. Foi precisamente neste tempo que o vigésimo primeiro Monshu, Myonyo, assumiu seu cargo.

Myonyo foi enérgico na proteção da liberdade religiosa e sua luta para manter as atividades do templo fora do controle estatal teve êxito. Para promover a tradição Shin, já em 1872, começou a enviar conselheiros e estudantes ao estrangeiro para investigar o pensamento e as práticas religiosas em todo o mundo. Em 1888, em resposta ao interesse de budistas pela Europa e América, o Hongwanji publicou um periódico em inglês, e também relatórios em japonês altamente apreciados sobre as condições da religião no estrangeiro. .

Em casa, Myonyo aboliu a hierarquia rígida de templos subsidiários e envolveu os templos locais espalhados por todo o país no governo, direto do Hongwanji. Ele também construiu escolas, orfanatos e outras instituições de assistência social e criou um programa de capelanias (cargo e ofício de capelão) para militares e prisioneiros. E, a partir de 1897, o Hongwanji iniciou o envio de ministros oficiais para fundar templos para os imigrantes japoneses no Havaí e no continente dos Estados Unidos.

Em 1903, Myonyo foi sucedido por Kyonyo (Ohtani Kozui), que continuou a estender a visão e alcance das atividades do Hongwanji. Particularmente, Kyonyo é conhecido pelas expedições Otani aos sítios budistas na Ásia central, em que se recuperaram muitos textos e artefatos dos desertos pelos quais o budismo foi transmitido ao Japão pelo Caminho da Seda.

As missões Shin na Europa começaram depois que o vigésimo terceiro Monshu, Ohtani Kosho, fez uma viagem em 1954. Hoje, o Hongwanji é o templo principal de mais de dez mil templos no Japão e de cerca de duzentos templos em todo o mundo.

A ESSÊNCIA DO SHIN BUDISMO DA TERRA PURA

O CAMINHO QUE EU SIGO

Nome do Ensinamento:

Fundador:
Shinran Shōnin
(21/05/1173 – 16/01/1263)
Nome da Escola:
Jōdo Shinshū Hongwanji-ha
(Honpa Hongwanji)
Templo Matriz Mundial:
Ryūkoku-zan Hongwanji
(Nishi Hongwanji)
Objeto de Reverência:
Tatāgata Amida
(Namo Amida Butsu)

Escrituras Sagradas:

Tríplice Sutra da Terra Pura pregado pelo Buda Shakyamuni:
・Sutra do Buda da Vida Imensurável
・Sutra da Contemplação do Buda da Vida Imensurável
・Sutra do Buda Amida

Obras principais de Shinran Shōnin:

・Shōshin Nembutsugue (Hino ao Nembutsu na Verdadeira Mente Confiante), extraído do capítulo “Prática”, da obra Kyōgyiōshinshō
・Jōdo Wassan (Hinos da Terra Pura)
・Kōssō Wassan (Hinos dos Patriarcas)
・Shōzōmatsu Wassan (Hinos das Três Idades do Darma)

Obra principal de Rennyo Shōnin, O Revitalizador:

Gobunshō (As Cartas do Mestre Rennyo)

Ensinamento:

Pela virtude do Voto Original do Tatāgata Amida, recebo a Mente Confiante (Shinjin) e vivencio o Nembutsu. Quando os elos que me prendem a esta existência se desfazem, se dá o nascimento na Terra Pura, me torno Buda e retorno a este mundo da ilusão para conduzir os seres à iluminação.

Vida Cotidiana:

Guiado pelos ensinamentos de Shinran Shōnin, ouço o chamado compassivo do Tatāgata Amida. Recitando o Nembutsu, sem recorrer a súplicas, reflito sempre sobre minha conduta e, na tristeza dos meus erros e na alegria regozijante, levo uma vida de gratidão e retribuição por todos os benefícios.

Comunidade:

Somos uma Comunidade de irmãos do Darma que segue os ensinamentos de Shinran Shōnin, pratica o Nembutsu e transmite a Sabedoria e a Compaixão do Tatāgata Amida. Contribuímos, assim, para a construção de uma sociedade na qual todos possam viver uma existência plena.

CALENDÁRIO DE OFÍCIOS

Os templos do Shin Budismo da Terra Pura estão abertos ao público em geral, e seus ofícios diários, semanais, mensais ou anuais podem ser freqüentados por todos. Consulte a programação do templo que deseja freqüentar. Em muitos templos, os ofícios são realizados em língua japonesa, mas há alguns com prédicas em português.

Ao longo do ano, as seguintes datas são observadas:

JANEIRO

Dia 1° – Ofício de Ano Novo
(Shûshô-e) É o Ofício em que, além de comemorarmos a entrada do novo ano, damos o primeiro passo junto com o Nembutsu na vida de retribuição de gratidão, na alegria de viver com o ensinamento da verdade do budismo.

Dia 16 – Ofício Memorial em Homenagem ao Fundador, Shinran Shonin
(Hôonkô) É o mais importante ofício do Shin Budismo da Terra Pura, no qual prestamos homenagens a Shinran Shonin (1173-1263), seu fundador. Tradicionalmente, no Templo Matriz Mundial – Honzan – cuja sede fica em Kyoto, Japão, realizam-se Ofícios durante sete dias, intercalados com várias atividades como a leitura da biografia do fundador, sermões dos monges, refeições vegetarianas, etc. Os presentes, monges e leigos, ouvem palestras de monges renomados, encontram-se com adeptos de outras regiões e até do exterior e fortalecem os laços de amizade e o espírito de sanga.
No Japão, cada templo costuma celebrar seu próprio Ofício de Hôonkô, entre outubro e dezembro do ano anterior, para assim participar da cerimônia na matriz – Honzan.
No Brasil, a maioria dos templos realiza este Ofício em um único dia, geralmente, em algum final de semana dos meses de outubro a dezembro, pois, tradicionalmente entre os dias 14 e 16 de janeiro todos os monges participam deste Ofício realizado na sede sul-americana, Betsuin, em São Paulo.

FEVEREIRO

Dia 15 – Ofício do Nirvana
(Nehan-e) Neste Ofício é celebrada a data do falecimento do Buda Sakyamuni, – príncipe Sidarta Gautama – que iniciou o budismo há mais de dois mil e quinhentos anos na Índia, legando à humanidade a riqueza dos seus nobres ensinamentos. Ele atingiu o despertar ou iluminação, aos trinta e cinco anos sob a árvore bodhi e faleceu aos oitenta anos. Como representação concreta histórica (nirmanakaya), ele deixa a forma humana para entrar no nirvana pleno.

Geralmente, os templos realizam este ofício em algum final de semana do mês de fevereiro, conforme o calendário de atividades.

MARÇO e SETEMBRO

Ofício de Passagem para a Margem da Iluminação
(Higan-e) Duas vezes por ano, o sol corta o equador bem ao meio, fazendo com que dia e noite tenham igual duração. São os equinócios que ocorrem no primeiro e segundo semestres.

Nas duas ocasiões comemora-se o Higan-e, de outono (março) e o de primavera (setembro). No budismo japonês, “Higan” significa a “margem do Mundo da Iluminação”, isto é, o mundo do Buda. Com a oportunidade que estes ofícios oferecem, buscamos ouvir o Darma para nos libertarmos deste mundo de ilusão e sofrimento e atingir o mundo da Iluminação Búdica. Desta forma, busca-se sair do samsara, o ciclo de nascimentos e mortes no sofrimento a que estamos sujeitos, e atingir o nirvana, a meta budista do nascimento de um ser desperto, de sabedoria e compaixão, emancipado das paixões maléficas e liberto do ego ignorante. Geralmente, este ofício é realizado em algum final de semana dos meses de março e setembro, conforme o calendário de atividade de cada templo.

ABRIL

Dia 8 – Ofício Comemorativo do Nascimento do Buda Sakyamuni
(Hanamatsuri/Kambutsu-e) Traduzido como “Festival das Flores”, o Hanamatsuri é o Ofício Comemorativo do Nascimento de Sidarta Gautama, que se tornou o Buda Shakyamuni. Dentro do templo, monta-se um altar de flores (hanamido) diante do altar principal, representando o Jardim Lumbini, local do seu nascimento, e coloca-se a estatueta do Buda criança, com a mão direita apontada para o céu e a esquerda voltada para a terra. Derrama-se o chá adocicado sobre esta imagem, numa alusão ao nascimento do Buda que – diz a lenda – foi tão jubiloso que provocou uma chuva de néctar. Por esse motivo, esse ofício é também chamado de Kambutsu-e, que significa o rito de banhar o corpo do Buda com chá doce.

Geralmente, este ofício é realizado num final de semana do mês de abril, conforme o calendário de atividade de cada templo.

MAIO

Dia 21 – Ofício Comemorativo do Nascimento do Fundador do Shin Budismo da Terra Pura, Shinran Shonin
(Gôtan-e) É a celebração do aniversário de Shinran Shonin, fundador do Shin Budismo da Terra Pura. Na matriz Honzan, em Kyoto, além dos ofícios religiosos, são programados entretenimentos como o gagaku (música ritualística), o teatro noh e as cerimônias de chá.

Este ofício é realizado, em geral, em algum final de semana do mês de maio, conforme o calendário de atividade de cada templo.

JULHO ou AGOSTO

Ofício de Finados Budista
(Urabon-e, Obon ou Kangui-e) O Urabon-e ou popularmente conhecido como Obon (Finados Budista) tem sua origem no Sutra Ullambana, que narra a estória de Mahamaudgalyayana (em pali, Mogallana, ou Mokuren em japonês), dileto discípulo do Buda Sakyamuni que possuía o poder de visão transcendental. Ao perceber que sua mãe falecida, que se encontrava no reino dos demônios famintos, foi salva pela compaixão do Buda, Mogallana ficou tão extasiado que dançou de contentamento. A partir daí surgiu a dança do Bon-Odori, que são as danças japonesas tradicionais do dia de Obon.

Assim, nesta ocasião em que relembramos os entes falecidos, recebemos a oportunidade de ouvir o Darma e, no regozijo do encontro com o Voto Original do Buda Amida que assegura o nosso nascimento na Terra Pura, expressamos a nossa alegria na forma da dança de Bon-Odori. Por isso a cerimônia é também denominada de Kangui-e, “Reunião de Júbilo”.

Geralmente, os templos realizam este ofício em algum final de semana do mês de julho ou agosto, conforme o calendário de atividade de cada templo.

OUTUBRO ou NOVEMBRO

Ofício de Perpetuação do Sutra
(Eitaikyô) O Ofício de Perpetuação do Sutra, Eitaikyô, é a oportunidade que recebemos de ouvir o Darma, esclarecidos pelo Sutra, para que assim, o ensinamento do Buda seja passado de geração a geração. Geralmente, há nos templos um livro de registro póstumo chamado “Eitaikyô Daityô”. Nele estão registrados os nomes dos entes falecidos, e quando se faz a oferta de “Eitaikyô Konshi”, um envelope com um valor (pode ser pré-definido ou não, conforme o sistema de cada templo) é entregue ao templo pelos familiares dos falecidos. Esta doação monetária destina-se à manutenção do templo e à sobrevivência do monge e sua família ali, para sustentar suas atividades e, conseqüentemente, perpetuar o Darma.

Geralmente, os templos realizam este ofício em algum final de semana do mês de outubro ou novembro, conforme o calendário de atividade de cada templo.

DEZEMBRO

Dia 8 – Ofício de Iluminação do Buda Shakyamuni
(Jôdô-e) É o Ofício que celebra o despertar ou a iluminação do príncipe Sidarta Gautama que, com esse feito, tornou-se Buda Shakyamuni.

Com seu exemplo, o Buda Shakyamuni esclareceu que o objetivo da vida está em cada ser atingir o despertar da natureza búdica de sabedoria e compaixão supremas. Esse dia representa a alvorada da libertação universal da humanidade do sofrimento e da ignorância.

No ensinamento do Shin Budismo da Terra Pura, como é esclarecido que o despertar da natureza búdica ou o atingir do estado de Buda não se deve à nossa força ou virtude, compreendemos este Ofício como uma oportunidade de ouvir o Voto Original do Buda Amida que assegura o nosso nascimento na Terra Pura e faz com que nos tornemos Buda também.

Geralmente, os templos realizam este ofício em algum final de semana do mês de dezembro, conforme o calendário de atividade.

Dia 31 – Ofício da Passagem de Ano e o Sino da Virada
(Joya-e) Na noite do último dia do ano, os templos realizam o ofício de gratidão a todos que nos ajudaram, no decorrer do ano, com reflexão sobre a interdependência de todas as coisas, sobre todos e sobre tudo que tornou a nossa existência possível.

Nos templos que possuem o grande sino, o “bonshô”, é realizada a cerimônia dos cento e oito toques na passagem do ano. Estes simbolizam o desejo de extinguir as cento e oito más paixões do ser humano acionadas durante o ano que passou para que o novo ano seja recebido com esperanças renovadas. Esse ato é chamado de joya no kane, ou seja, “sino da passagem da última noite do ano”.

Mas, no Shin Budismo, o toque do Bonshô tem outro sentido. Devido à nossa ignorância, representada nas cento e oito más paixões, esquecemos de tantas coisas importantes da nossa vida… E, assim, na última noite do ano que se encerra, procuramos ouvir o Darma no próprio som do toque desse sino que, soa da seguinte forma: “Gooooonnnn” que tem um som similar à “Goon”, termo japonês para gratidão, benevolência. Pelo menos ao término do ano, procuramos agradecer, na recitação do Nembutsu e ouvindo o Darma no próprio toque do Bonshô, todas as benevolências e dádivas recebidas durante o ano.

Nos templos do Brasil, é mais comum encontrar o sino menor, “Kanshô”. Assim, no Ofício de Joya-e, após a leitura de um pequeno sutra ou texto sagrado é tocado o Kanshô.

O horário do início deste ofício pode variar de templo para templo.

Ofícios Diários

Nos templos do Shin Budismo da Terra Pura, geralmente, são realizados ofícios diários no período da manhã e ao entardecer.

Ofício Matinal – Odindyô ou Oassadi

Neste ofício diário, primeiramente, é tocado o sino menor, Kanshô, que chama os participantes para o início do ofício. Com o monge em seu posto, cantam-se o Shoshingue e um conjunto de Nembutsu, e os hinos compostos por Shinran Shonin. Em seguida, faz-se a leitura das Cartas do Mestre Rennyo e finalmente, uma prédica do monge. O ofício termina com a recitação dos Princípios do Jodo Shinshu para o cotidiano.

No Templo Matriz, no Japão, no Amidadô (templo onde a imagem central é Buda Amida) é realizado o cântico do Sambutsugue e, em seguida, todos caminham até o Goeidô (templo onde a imagem central é Shinran Shonin) para cantar o Shoshingue, Nembutsu e Wasan. Este ofício inicia-se entre cinco e meia da manhã e seis horas, conforme o período do ano.
No Brasil, sobretudo no Templo Matriz, o ofício matinal é realizado a partir das sete horas.

Ofício da Tarde – Oyûdi

No Templo Matriz em São Paulo, este ofício é realizado a partir das dezesseis horas e quarenta e cinco minutos. Neste Ofício, é realizado o revezamento de leitura de textos mais curtos. E, no final, é cantado um hino budista.

PRECEITOS DO SHIN BUDISMO DA TERRA PURA PARA O COTIDIANO

  • Na confiança no voto do Buda, recito o Nembutsu e vou viver com firmeza e jovialidade.
  • Em reverência à luz do Buda, reflito sempre sobre minha conduta e vou me esforçar para viver com gratidão.
  • Na escuta profunda dos ensinamentos do Buda, escolho o caminho correto e vou contribuir para a propagação do Darma.
  • Na alegria da compaixão do Buda, no respeito e auxílio mútuos, vou me dedicar ao bem da sociedade.

PRINCÍPIOS DAS CRIANÇAS DO BUDA

  • As crianças do Buda ouvem os ensinamentos com o coração aberto.
  • As crianças do Buda cumprem os compromissos, sem falta.
  • As crianças do Buda falam sempre a verdade.
  • As crianças do Buda realizam suas tarefas com boa vontade.
  • As crianças do Buda têm sempre o coração bondoso.

PRINCÍPIOS DOS JOVENS BUDISTAS

  • Ouvimos os ensinamentos do Buda e desenvolvemos atividades dando o exemplo do caráter do jovem budista em todos os lugares:
  • procurando cultivar a compaixão e a sabedoria;
  • compartilhando os nossos sofrimentos, tristezas e alegrias;
  • respeitando a vida, com o coração sincero, palavras gentis e atitudes acolhedoras.

PRINCÍPIOS DAS SENHORAS BUDISTAS

  • Nós, senhoras budistas, seguimos o exemplo de Shinran Shōnin, que viveu em busca da verdade. Ao despertar para a dignidade de nascer na condição humana, ouvimos cada vez mais o sentido profundo do Voto do Buda Amida. E preservamos o Darma vivenciando o Nembutsu:
  • Dedicando-nos a ouvir o Darma, vivemos o nosso cotidiano guiadas pela Luz compassiva;
  • Construindo um lar permeado pela fragrância do Nembutsu, criamos nossos filhos como crianças do Buda;
  • Seguindo o ensinamento que nos revela o mundo da fraternidade, ampliamos o círculo de amizade do Darma.

Publicações

COLEÇÃO JODO SHINSHU

1. Jodo Wasan, vol. 1, 1985

2. Jodo Wasan, vol.2, 1986

3. Koso Wasan: Hinos dos Patriarcas, 1992

4. Shozomatsu Wasan, 1996

5. Gobunsho: As cartas de Rennyo, 1998

6. Mattosho: Cartas de Shinran, 2000

7. Tannisho: Tratado de Lamentação das Divergências, 2002

8. Amidakyo: o Sutra de Amida, 2004

9. Budismo da Terra Pura: um guia, 2004

10. Kan Muryojukyo: o Sutra da Comtemplação do Buda da Vida Imensurável, 2007

11. Rennyo-sama, Centro Internacional do Hongwanji, Kyoto, Japão

12. Livro de Ofício, 2010